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30/09/11

Poema de Amor


    
Tenho, ainda, o teu corpo nos meus braços;
Sobre os meus ombros, teu cabelo.
Descansando dos meus e teus cansaços,
Tu dormes por nós ambos. Só eu velo.

Nos meus braços teu corpo estremeceu,
Desse tremor o meu foi percorrido.
Colados, curva a curva, onde começa o teu?
Onde acaba o meu? Teu e meu têm sentido?

Teu ligeiro suor penetra a minha pele:
Teu suor dos transportes de há momento
Que me atrevo a provar como quem lambe mel,
Em que refresco as mãos como num leve unguento.

Brandamente, por vezes, te desvio
De mim, para melhor, depois, sentir
Que és bem tu que eu agarro, acaricio,
Bem tu que eu pude em mim fundir.

Ai, anular-te em mim sem te perder!
Aniquilar-me em ti, – mas sendo nós!
Velo, e nem sinto a noite a discorrer.
Sonho, e que sonho de que amor feroz?
Desnudar o corpo para uma vida sem disfarce.

José Régio

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