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01/12/11

Intervalo

" Um grande escritor de todos os tempos"

Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado —
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não o sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?


Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?


Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?


Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca —
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.


Fernando Pessoa,

2 comentários:

  1. Mais um poema lindo do "Cancioneiro"!
    "Não foi um outro, porque o não sabia", falta o "o" segundo o meu modesto livro, mas é natural que isso aconteça.
    A poesia dele torna a nossa vida melhor, sem dúvida!!!
    Beijos!

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  2. Obrigado pelo reparo Hugo, ao escrever por vezes pode haver uma falha e quando lemos nem reparamos. Adoro poesia, e "Fernando Pessoa" é um dos meus preferidos.
    Bjs

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