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18/11/16

Lágrimas ocultas


     Florbela Espanca


Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Amor, que o gesto humano na alma escreve



Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.

Luis Vaz de Camões

07/11/16

Minha Canção






Minha canção te envolverá com sua música,

como os abraços sublimes do amor.

Tocará o teu rosto como um beijo de graças.



Quando estiveres só, se sentará a teu lado e te falará ao ouvido.

Minha canção será como asas para os teus sonhos

e elevará teu coração até o infinito.



Quando a noite escurecer o teu caminho,

minha canção brilhará sobre ti como a estrela fiel.

Se fixará nos teus lindos olhos e guiará teu olhar até a alma das coisas.



Quando minha voz se calar para sempre,

minha canção te seguirá em teus pensamentos.



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