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11/04/24

in Regresso a Casa, de José Luís Peixoto



Olho para o livro que me emprestaste e que nunca devolvi. Também ele olha para mim.

Tem as marcas da tua leitura, certos vincos no branco das páginas, manchas subtis e difusas como nuvens, restos das tuas mãos ou do teu olhar.

Espero que não penses sobre mim o que penso sobre as pessoas que nunca me devolveram os livros que emprestei. O que pensarás tu sobre mim? 

Nunca li o livro que me emprestaste, preferi sempre imaginá-lo. Suponho que ainda se sinta estrangeiro entre os meus livros,mas agora é demasiado tarde para devolvê-lo, há tanto tempo que não falamos, não sei se ainda guardo o teu número de telefone.

O que pensarias se agora,  a despropósito, te quisesse devolver o livro? Havias de pensar que queria alguma coisa. 

Sabes, fico com o teu livro porque não quero nada. Provavelmente, nunca te devolverei este livro, fará parte do meu espólio, é a última ligação que temos.

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