Olho para o livro que me emprestaste e que nunca devolvi. Também ele olha para mim.
Tem as marcas da tua leitura, certos vincos no branco das páginas, manchas subtis e difusas como nuvens, restos das tuas mãos ou do teu olhar.
Espero que não penses sobre mim o que penso sobre as pessoas que nunca me devolveram os livros que emprestei. O que pensarás tu sobre mim?
Nunca li o livro que me emprestaste, preferi sempre imaginá-lo. Suponho que ainda se sinta estrangeiro entre os meus livros,mas agora é demasiado tarde para devolvê-lo, há tanto tempo que não falamos, não sei se ainda guardo o teu número de telefone.
O que pensarias se agora, a despropósito, te quisesse devolver o livro? Havias de pensar que queria alguma coisa.
Sabes, fico com o teu livro porque não quero nada. Provavelmente, nunca te devolverei este livro, fará parte do meu espólio, é a última ligação que temos.
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