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24/07/11

Metade


Que a força do medo que tenho,não me impeça de
ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito não me tape os
ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda,

ainda que tristeza.
Que a mulher que eu amo seja para sempre

amada mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.


Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece,
e nem repetidas com fervor; apenas respeitadas, como a única
coisa que resta a um homem inundado de sentimentos...

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma
e na paz que eu mereço...E que essa tensão que me coroe
dentro seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste,e que o convívio comigo mesmo,
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflicta em meu rosto, um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim é a lembrança
do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso

simplicidade para faze-la florescer.

Porque metade de mim é plateia,

e a outra metade é canção

E que a minha loucura seja perdoada,
Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...também.


Pablo Neruda

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