( excerto) À memória de Raquel Moacir
A tua morte é sempre nova em mim.
Não amadurece.
Não tem fim.
Se ergo os olhos dum livro,
de repente
tu morreste.
Acordo, e tu morreste.
Sempre, cada dia,
cada instante,
a tua morte é nova em mim,
sempre impossível.
E assim, até à noite final
irás
morrendo a cada instante da vida
morrendo a cada instante da vida
que ficou fingindo vida.
Redescubro a tua morte
como outros
redescobrem o amor,
porque em cada lugar,
cada momento,
tu estás viva.
Viverei até à hora derradeira a tua morte.
Aos goles, lentos goles.
Como se fosse
cada vez um veneno novo.
Não é tanto a saudade que dói,
mas o remorso.
O remorso de todo o perdido em nossa vida,
coisas de antes e depois,
coisas de nunca,
palavras mudas para sempre,
um gesto
que sem remédio jamais teve destino,
o olhar que procura e nunca tem resposta.
O único presente verdadeiro é teres partido.
Adolfo Casais Monteiro
Adolfo Casais Monteiro
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